Eu havia sido forçada a estar lá. Era totalmente contra a minha vontade passar quatro meses isolada de todos, de tudo. Vivendo com base em regras arbitrárias, que apenas garantiam maiores quantias para o bolso de um figurão poderoso, com ligações sabe-se lá com quais setores da sociedade. (Coisa que eu nem quero tomar conhecimento)
Amigos até era possível fazer naquele local inóspito, mas não se conhecia o futuro destas relações. Se houvesse futuro...
Era dia de visita. Eu ansiava pela liberdade. Estava com a esperança de sair, de ver a rua, tomar uma taça de vinho espanhol, comer azeitonas... Encontrar amigos. (Será que eu ainda tinha amigos?)
Chegou aquele em que eu pensava que eu podia confiar. Era um dia especial. Ele havia trazido biscoitos doces e refrigerante. Fiquei contente, mas sabia que comida não era exatamente o que eu precisava naquele momento. Comida eu tinha, no refeitório, a cada três horas e meia.
Sentamo-nos a uma mesa redonda, que ficava na sala de TV. A TV só passava novela. Eu prefiria morgar assistindo videoclipes. Minha mente estava torporosa. Eu permanecia num silêncio ensurdecedor. Falava o mínimo.
Ele abriu um pacote de biscoito de morango. Ofereceu para mim. Eu comi como se recebesse afeto. Porém, junto ao biscoito, ele ofereceu suas palavras, suas crenças, seu ego inflado.
Começou a se dizer infinitamente superior a mim. Disse-me que eu, aos meus 22 anos, era nada perto dele, que era quase 40 anos mais velho. Afirmou, com veemência, ser muito apto a viver uma vida honrada. Afirmou que eu era imatura e quanto a ele: era o melhor, comparativamente a mim, só pelo simples fato de não ser quem estava em situação tão ruim, como a que me encontrava.
Minha mente girava. Eu via bolinhas e não conseguia mais prestar atenção em uma só palavra. Mas ele continuava com um discurso delirante, de superioridade, a respeito de seu mérito e da minha dependência. Delirava a respeito de uma vida gloriosa, de merecimento de respeito intocável, de merecer muito mais do que tinha... Afinal, tudo que tinha fora conquistado por esforço próprio, não devendo nada a ninguém.
Dizia que eu era inútil, que eu havia perdido o meu "crédito". Sentenciou: "Não vai ter nada e nem ninguém, nunca!"
Quanto a minha cabeça, eu não conseguia pensar em nada. Estava anestesiada. Pensar demandava muita consciência do momento presente, que, por sua vez, estava inimaginável.
O tempo passou. Eu saí daquele local físico e do lugar emocional onde estava. E percebi: quem será que ele pensava que era? Tenho horror de lembrar. Mas, me questiono: será que eu era assim também? Acho que não. Eu sempre soube que dependemos uns dos outros, o que me fazia um pouco menos soberba. Apenas um pouco menos soberba. Um pouco menos. Mas não o suficiente.
Será q é tão honrado ? Nso deve nada a ninguém? Acho q quem muito fala é para se convencer q é bom pois quem é não precisa falar é clama a todos para q vejam tão maravilhosa criatura.Affff
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