Tem quem tenha dores que se dão de maneira intermitente e pontiaguda, de três a três dias. E, mesmo assim, seguem o seu ofício, a sua obrigação diária, trabalhando para prover ao mundo o seu quinhão. E o fazem sem reclamar. E acordam, e trabalham, e comem, e tomam banho, e dormem e repetem este ciclo todos os dias, com alegria.
Tem quem tenha uma grave apendicite, passe por uma cirurgia e, em menos de duas semanas esteja isento de incômodos. E seguem a chorar por motivos secretos e irreveláveis. Seguem numa dor inconfessável e num sofrimento incorrigível.
Há quem não sinta nada. Mas nada mesmo. Nem dor, nem amor. Estes gostam de testar. Padecem de uma curiosidade mórbida a respeito de coisas que são reconhecidamente ruins. E então, querem tentar descobrir o que ocorre, quais são os resultados das más ações. Praticam torturas, danos a outras pessoas, ameaças. Aprisionam, forçam, chantagiam, machucam. E pode ser que sejam reconhecidos, tenham fama e uma imunidade provisória e longa, fundamentados em uma fortuna superficial e leviana, mas de grande quantidade.
Ainda, temos os que se ofertam. Ofertam a própria vida em nome de algo maior. Que querem viver intensamente, pois já passaram por experiências limítrofes. Estiveram lá: diante da Força Suprema. E esta Força lhes comunicou: continue, mas faça algo com consistência. Estas pessoas se doam. Nem ligam para si próprias. Simplesmente, querem fazer o melhor ao outro e deixam até de dormir. Curam suas dores na solução dos males dos outros.
Existem uns que vivem imersos em uma rotina congelada. Até tentam fazer pequenos movimentos em prol de um fazer, mas são impedidos por forças estranhas existentes em sua própria mentalidade. Não conseguem transpor a barreira da dor de traumas antigos, vivendo em um passado remoto, abandonando o presente, que poderia ser melhorado, simplesmente, por meio de momentos com maior força de existência, maior consciência do instante em que se está vivendo.
E aqueles que viajam o mundo? São aqueles que navegam, voam, caminham, passam em todos os lugares que lhes dê o sentimento de liberdade. A nada se prendem. Em nenhum lugar residem. Apenas seguem seu caminho de conhecer, viver e respirar novos e diversos ares.
De todos estes tipos, e muito mais, não sei dizer se há cura. Porque, talvez, esta não seja a solução. Pois não estamos falando de doenças. Estamos falando da arte de viver. E, para isso, só a prática da vida, do dia-a-dia pode mudar, se a vontade vier de dentro.
Que a nossa vontade venha toda vez que precisarmos de boas mudanças e quando precisarmos de alguma cura.
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