O tempo (duas pedras de gelo) - continuação

Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar
Chico Science

O tempo é cruel. Insano. Professor. Ele nos mostra nossas forças e vulnerabilidades. Ele desacerta e conserta. Ele ajusta e desalinha. Faz vicejar aquilo ao que mais nos dedicamos. Mostra quem é quem. Com ele, as máscaras caem. É inevitável.

É inevitável, o passar do tempo. As rugas. A flacidez. A velhice. A não ser que você morra jovem. Daí, sabe-se lá se você vai para a vida eterna ou para o fogo da discórdia. 

Ninguém sabe o destino além da Terra. O Elon Musk bem que tenta ir para Marte. Mas será que ele vai conseguir?

Um mês longe do mundo e tudo muda. Quatro meses, você não consegue mais usar o celular corretamente e nem entende como funciona a internet ou o canal da televisão. O mundo tem mudado com muita velocidade. Cada vez mais veloz. Cada vez mais fulgás.

Cada vez mais, eu tenho menos de você na minha vida. A minha saudade já ultrapassou os limites do emocionalmente aceitável. É injusto ter alguém e, depois, não ter mais. O amor é injusto. O tempo mostra o quanto e quem amamos de verdade.

O que o tempo dirá disso tudo? Eu não sei. Deixo o tempo passar para descobrir. Vivendo cada dia. Um instante de cada vez. 

Talvez você esteja mais na minha vida agora do que há um ano. A minha identidade se fundiu a sua de tal forma... Impressionante. Sem você não me reconheço. É difícil viver com essa sensação de não saber mais quem eu sou. Não sou mais eu. E você não me parece mais você. Talvez esteja tudo perdido, agora.

O tempo cai. Ecoa suas gotas num tilintar vazio e mudo dos segundos que pingam num tacho largo e enferrujado. E eu, longe de você e de todos, contava meus dias a partir de memórias. Memórias que lembravam nós dois juntos. Eram bons os momentos que me vinham à mente. E eu vivia de doces lembranças, que me sustentavam em meio a um ambiente inóspito a qualquer afeto. 

É este afeto que quero sempre lembrar. O seu olhar dirigido a mim, nos instantes quentes, cálidos e suaves que compartilhamos. E que, talvez, não aconteçam mais. Porque nenhum minuto se repete. Mas, na minha esperança, no meu coração, vou te encontrar de novo, longe de qualquer imperfeição humana, de qualquer doença, de qualquer vício, de qualquer defeito. Seremos juntos de novo. Algum dia...